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domingo, 19 de junho de 2016

Formato de revisão para a VG

Amores,
nessa semana debatemos os filmes relacionando com tudo o que vimos no bimestre. Em algumas turmas já trabalhamos os textos da VG (que já estão disponíveis no moodle - link Sociologia - para todos). Como o debate flui diferente em cada coletivo diferente, farei esta postagem em formato de aula de revisão para a prova interdisciplinar. Só não fiz videoaula por causa da minha inabilidade tecnológica. Mas esta já vai ajudar o bastante: 

A VIOLÊNCIA é um FATO SOCIAL (Durkheim), geral, exterior e coercitivo, portanto tratada pela Sociologia enquanto fenômeno com causas, consequências e possíveis soluções COLETIVAS. Casos desviantes, de loucos e psicopatas, não entram em nossa análise. Tratamos enquanto lógica macrossocial, reproduzida e atualizada nos ambientes microssociais. Assim, aprofundaremos nossa compreensão desse fenômeno social, percebendo a relação dialética entre essas duas esferas por meio dos filmes, conteúdos e vivências dadas neste bimestre: 


MACROSSOCIAL: 
 A violência estrutural existe e se reproduz há muitos séculos, por isso temos a sensação de que ela sempre existiu, parecendo, portanto, natural. No entanto, podemos entendê-la como construção social, assim como tudo que envolve as sociedades humanas, para podermos resolvê-la. Por meio da compreensão histórica observamos como os elementos se reproduzem para pensarmos em alternativas pragmáticas:

 DESIGUALDADE SOCIOECONÔMICA - Este elemento existe desde o surgimento da propriedade privada. Ocorre nos modos de produção escravista, feudalista e capitalista, gerando exploração, dominação e guerra. No capitalismo, a exploração se dá por meio da MAIS VALIA, na qual o trabalhador é expropriado de parte do fruto do seu trabalho. Ela é mais alta quanto mais vulnerável for o proletariado. O desemprego estrutural (EXÉRCITO INDUSTRIAL DE RESERVA) é um dos principais fatores que deixam o empregado com medo de questionar a exploração na qual está submetido. Quanto maior a evolução tecnológica, associada à concentração de renda e o não apoio do Estado à seguridade social, maior é esse desemprego. Pessoas sem trabalho, marginalizadas ou excluídas, ficam mais suscetíveis a receber, internalizar e cometer violências. Em países com alto índice de excluídos, com crises recorrentes, tendem a ter altos índices de mortalidade, como o Brasil. Buscando resolver esses problemas surge a utopia socialista, que se realizou enquanto revolução na Rússia, no final da primeira guerra mundial. O socialismo real se concretizou como um capitalismo de Estado, que gerenciando a mais valia, diminuía a desigualdade e evitava crises de superprodução. Porém, mantinha alguns vícios do sistema e intensificava outros, reproduzindo a violência.

GUERRA FRIA – O imperialismo está na lógica expansionista do sistema capitalista e o socialismo real a manteve também. Após a segunda guerra mundial, dois países despontaram como grandes potências imperialistas: os EUA (capitalista) e a URSS (socialista). Nesse período, de 1945 a 1989, ocorreu a Guerra Fria, sem confronto direto entre as duas nações, mas com muitas mortes decorrentes de conflitos civis em ditaduras estabelecidas em todo o mundo. 

DITADURAS – Na América Latina as ditaduras, salvo a Cubana, eram adeptas ao capitalismo norte-americano, inclusive com investimento deste nos regimes que o apoiavam. A resistência armada se dava pelos simpatizantes do outro lado, mas existiam pessoas que lutavam pacificamente contra a ditadura em diversos setores, como jornalistas, estudantes, professores, artistas, militares e cristãos (visto no filme “Batismo de Sangue”- 3ºano). Como a disputa se dava também no campo ideológico, no Brasil todos que apoiavam o regime militar eram rotulados de “direita fascista”, os que eram contra de “comunista terrorista”(mesmo não sendo). Essa polarização tem alguns resquícios até hoje no mundo, assim como a prática de tortura e violência policial.

CHERNOBIL – A guerra fria tinha este nome principalmente porque se vivia em constante tensão frente a eminência de um ataque nuclear entre os países envolvidos. O acidente na usina nuclear em Chernobyl, na Ucrânia, ocorreu em 1986 e, apesar de ter tido consequências ecológicas terríveis para o planeta terra, acelerou o processo de abertura da URSS e o fim da guerra fria. As nações envolvidas perceberam que não dava para brincar de guerra atômica. Pena que 30 anos depois do acidente parece que o mundo está esquecendo dessa grande e dolorosa lição.

FILME "NO" - Este filme retrata o processo de abertura no Chile em 1988. Uma das ditaduras mais violentas do nosso continente estava sem respaldo internacional e seu ditador Pinochet teve que lançar um plebiscito pela continuidade ou não de seu governo. As campanhas do Sí e do No mostram bem os embates da época, que também ocorrem hoje em nosso país. Além disso, dá dicas de como podemos superar desavenças de maneira construtiva e democrática.

OLIMPÍADAS E PARAOLIMPÍADAS- A despeito de terem como um de seus principais objetivos a integração pacíficas dos 5 continentes, as olimpíadas são utilizadas como veículo de disputa e dominação ideológica, principalmente nos momentos de guerra. Se por um lado reforçam valores de superação, resistência, respeito e organização coletiva, por outro também trazem elementos de exclusão, reforço de imperialismo cultural e naturalização de uma meritocracia com bases injustas. A compreensão ampla e complexa desses eventos, desenvolvem nosso senso crítico, para filtrarmos o que pode nos ajudar a construir um mundo mais justo, pacífico e solidário.


MICROSSOCIAL:  
A história e a biografia estão em constante relação dialética. Aprendemos em nosso cotidiano valores e comportamentos passados milenarmente por nossa sociedade. Atualizamos e reproduzimos nos ambientes e relações próximas, muitas vezes sem perceber, toda a violência observada no macrossocial. Tomando consciência, podemos reorientar nossas ações e quebrar este ciclo vicioso:

COMPETIÇÃO EXCLUDENTE – Em nossa sociedade as crianças de 5 anos já conhecem a “brincadeira dança das cadeiras”. Ela simula o exército industrial de reserva, criando uma condição de escassez artificial. A pessoa que perde é excluída do jogo até sobrar somente um: o vencedor. Esta disputa é típica de sociedades como a nossa, dificilmente inteligível para outras de modo de produção diverso. Em outras competições mais tradicionais o perdedor e o vencedor jogam o tempo todo, só no final se diferenciam. O problema é que esta inocente brincadeira é naturalizada e generalizada para outras, onde o divertimento deixa de ser a interação e sim o excluir/ massacrar o outro.

 BULLYING – Este fenômeno social vem aumentando em números. Talvez porque estão aparecendo mais, pois estamos combatendo, mas de qualquer forma é um FATO SOCIAL que está longe de ser superado. Provavelmente a explicação do item anterior justifique a dificuldade que temos em anular este tipo de violência. Quando aprendemos desde cedo que “o outro é meu adversário, ele que vai roubar meu lugar, me machucar, me ridicularizar, me massacrar”, então “eu luto contra ele, antes ele ser menosprezado do que eu”. Aí vira uma guerra de cegos, onde a violência é só mais uma “brincadeira”, que somente quem é “mente fraca” não sabe lidar. Isso é generalizado para tudo: piadas, redes sociais, zoação em sala de aula, brigas infantis entre chapas de grêmio estudantil.

DISPUTAS DE CHAPAS E DESRESPEITO – Como analisado, os desrespeitos ocorridos nas últimas semanas entre chapas do grêmio foram mimetizações de um sistema social extremamente pervertido e grosseiro. O Brasil foi construído a partir de explorações, dominações e ditaduras. Temos pouco tempo de democracia, portanto ainda estamos aprendendo a lidar com conflitos e disputas ideológicas de maneira pacífica e auspiciosa. No entanto, se tomarmos consciência das reproduções que fazemos inadvertidamente podemos exercitar a democracia a partir de nós, do grêmio, da nossa escola, da nossa família, da nossa cidade.

TECNOLOGIAS SOCIAIS – Ao compreender os meandros da relação dialética entre o macrossocial e o microssocial, somos capazes de criar alternativas práticas. Vários pensadores, estudantes e profissionais criaram tecnologias sociais a partir do conhecimento adquirido para transformar coisas que discordavam. Abaixo cito algumas:
         - JOGOS ALTERNATIVOS – Como visto em aula, podemos usar jogos para questionar e desnaturalizar “brincadeiras” agressivas e excludentes. Crianças, adolescentes e adultos aprendem de maneira prática e lúdica que incluir é muito mais gostoso e é possível inclusive com disputas saudáveis.
         - SEMANA DA VIDA – Definida por intelectuais orgânicos presentes na Secretaria de Educação para que todos os estudantes da rede tenham um momento coletivo de apreensão do conhecimento transdisciplinar, com temas da atualidade, espaço de criação, diálogo e ação mais aberto.
         - MÉTODO PAULO FREIRE – Paulo Freire organizou um método de alfabetização e ensino onde o educando é sujeito do processo de conhecimento tanto quanto o educador. Ele baseia-se na horizontalidade, no diálogo e na valorização da diversidade de capital simbólico. Minhas aulas são baseadas neste método. Quem se interessar em conhecer mais, além de pesquisar na internet, podem pegar livros em nossa biblioteca desse autor. O mais conhecido dele é “Pedagogia do Oprimido”, terceiro livro mais citado no mundo acadêmico.
         - ENCONTROS EXTRACLASSE – Todo bimestre exijo que façam duas atividades extraclasse com outros colegas da escola. O objetivo é, além de ampliar o capital simbólico de vocês, estimular o encontro e a organização coletiva. Não basta entendermos os mecanismos de reprodução do individualismo e da exclusão. Precisamos enfrentá-los com exercícios práticos. A solidariedade, a organização coletiva, o encontro interpessoal presencial, a superação de obstáculos materiais, precisam ser incorporados em nossas vidas.
         - HISTÓRIA ORAL – A história por muito tempo foi contada somente pela perspectiva dos incluídos, ou seja, dos que escreviam de maneira academicamente reconhecida, ou tinham meios de divulgação de suas narrativas. O problema é que nessa perspectiva a vivência das classes desfavorecidas ficava de fora ou distorcida. Recentemente, por meio de filmagens a voz dos próprios atores sociais envolvidos tem dado uma visão mais complexa das relações e construções coletivas, incluindo narrativas inéditas anteriormente, como nos filmes “Conterrâneos Velhos de Guerra” (2º ano) e “Batalhas pela História” (3º ano).

FRIDA KAHLO- México 1907/ 1954 – Ela é um exemplo de resistência e superação. Em uma sociedade machista, racista e dominada pelo capitalismo norte-americano, tinha tudo para ser excluída e vitimizada, mas ousou e deixou uma mensagem inovadora por meio de seus quadros e atitudes. Com apoio de pessoas que a admiravam, ou comungavam de ideais comuns, conseguiu deixar a marca de uma identidade feminina e mexicana valorizada. Aprendemos mais com exemplos do que com palavras. Conhecer a biografia de empoderamento de pessoas como nós, ou até em condições mais adversas, podem nos motivar a superar condicionamentos sociais, buscando apoio onde antes tínhamos dificuldades de enxergar.


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