Estudantes
do meu coração,
Nesta
segunda teremos VE de humanas e como a revisão em sala de aula
sempre falha em alguma coisa, escreverei aqui mais detalhes do que
cairá na minha parte da prova. Das minhas 8 questões 4 dialogam com
o Carícia Essencial, tanto nas turmas de 2º quanto 3º anos.
Comecemos analisando as seguintes passagens:
-
“ O que acontece na socialização é que o mundo social é
internalizado pela criança. (...) Apenas uma compreensão da
internalização dá sentido ao fato incrível de que a maioria dos
controles externos funcionem durante a maior parte do tempo para a
maior parte das pessoas de uma sociedade.(...) Somos aprisionados com
nossa própria cooperação.” (Perspectiva Sociológica - A
Sociedade no Homem, P. Berger)
“
Já estou cheio de me sentir
vazio
Meu
corpo é quente e estou sentindo frio
Todo
mundo sabe e ninguém quer mais saber
Afinal
amar ao próximo é tão demodê” (Renato Russo)
“Nós
somos o que fazemos do que fizemos de nós” (Sartre)
Ao longo do ano, procurei trazer problematizações acerca da
sociedade na qual vivemos e dos padrões que internalizamos e
reproduzimos. Entendo que o maior objetivo do ensino médio é
instrumentalizá-los para ser pessoas conscientes, críticas, mais
autônomas e empoderadas. A reflexão radical dos padrões sociais
que nos formaram é condição básica para mudarmos nossa prática e
ambiente social, o qual tem levado ao isolamento, exclusão e
violência. As vezes tentamos evitar o questionamento e o confronto,
porém criamos um sistema de medo do outro e de isolamento, ao nos
esquivarmos de refletir sobre os padrões pré-determinados na
dinâmica das relações sociais. Nossa identidade e personalidade
têm a ver com a sociedade capitalista que nos forma, mesmo tendo
alguma liberdade para construirmos o que somos e onde vivemos. A
situação de exploração, exclusão, isolamento, violência e
alienação social, que vive grande parte de nossa população, não
pode ser analisada simplesmente como escolhas ou incapacidades
individuais. Todas estas questões são fatos sociais, que só podem
ser entendidos dentro do contexto histórico, econômico, cultural e
político em que se desenvolveram. O redirecionamento das crenças é
um instrumento eficaz na recuperação da autoestima e no
fortalecimento da identidade de grupo dos atores sociais oprimidos.
Os resistentes do Paranoá (filme Batalhas pela História – 3º
ano), ou os Incansáveis da Ceilândia (filme Conterrâneos Velhos
de Guerra - 2º), reconstroem crenças positivas sobre si , quando
se posicionam a respeito dos fatos que produziram seu contexto de
exclusão. É injusto e contraproducente culpabilizar as vítimas,
achando que as pessoas se deixam abater ou escravizar-se pelo sistema
social, porque já nasceram fracas e não querem impor sua vontade.
Precisamos entender os mecanismos de reprodução social que as jogam
em situações degradantes e nos fazem estigmatizá-los por isso. As
instituições ideológicas (escola, estado, família, igreja) e a
mídia, corroboram com a reificação, o individualismo, a economia
de carícia, a competição excludente, a alienação. Somos
treinados desde pequenos a receber mais carícias condicionais ou de
plástico, desenvolvendo dificuldades de se entregar a relações de
forma espontânea e autêntica. O conceito de filtro de carícia nos
ajuda a entender, no âmbito microssocial, como os padrões
relacionais estabelecidos tendem a ser reproduzidos. Se recebemos em
nossa formação somente determinado tipo de carícias, tendemos a
“filtrar” as que estiverem fora do padrão aprendido. Isso ocorre
também com as auto carícias. Elas são aprendidas socialmente, mas
podemos alterá-las se formos capazes de questionar o processo de
internalização de crenças e mitos que fomos submetidos em nossa
formação. O ser humano vive também em pensamento, por isto devemos
manter diálogos internos saudáveis, que nos estimule positivamente
e criticamente, facilitando nossas relações sociais. Nesse sentido,
uma das funções da sociologia na escola é estimular a reflexão
crítica frente a nossa formação psicossocial, nos possibilitando
maior leque opções para escolhas mais autônomas. No filmes
Estamira e The Wall contem críticas à alienação na educação e
no consumo. Todos filmes vistos nas aulas de sociologia, assim como o
livro Carícia Essencial, fazem críticas a elementos estruturais da
sociedade capitalista, entre eles a desigualdade, mantida com a
mesquinharia para se dar carícias positivas incondicionais. Por isso
vivemos em um mundo doente. A resistência em mudar os hábitos
nocivos à autonomia e à saúde emocional das pessoas na sociedade
de massas, acaba substituindo necessidades individuais por de
mercado. Tenta-se supri a falta de carícia incondicional através de
bens de consumo, mas isto não resolve o problema e acaba mascarando
a situação gerando alienação e isolamento. Essas carícias de
plástico vão contra uma construção saudável da personalidade
hoje. O filme “The Wall” faz essa crítica e mostra como a
violência pode é potencializada por meio da alienação e da
repressão. A delinqüência juvenil, assim como diversos vícios,
são desenvolvidos em meios sociais repletos de competitividade,
monetarismo e violência, que deseducam para o amor e para a
solidariedade.
Considero essa parte a mais simples da prova, por trazer elementos do
cotidiano. A única dificuldade será manter a atenção ao que está
sendo dito, sem distorcer a leitura pelo o que você acha que deveria
estar sendo colocado. Fique atento às sutilezas do vocabulário!
A parte mais complicada são as 4 questões do PAS/UnB, que diferem
em cada série. Começarei explicando as do 3º ano:
Relacionando
os filmes
“
Meu amigo Nietzsche”, “Estamira”
e
“The Wall”,
vemos que em trechos dos três filmes há crítica acerca da educação
escolar, um tanto alienada. Também nos três filmes os protagonistas
entram em conflito com o ambiente social em que vivem, sendo
estigmatizados. Eles foram formados e alguma medida integrados
pelos padrões sociais que em determinado momento passam a
questionar. Assim, todos fazem críticas sociais e estimulam
reflexões sobre as possibilidades de construirmos um contexto
melhor, com melhor utilização do que é produzido , uma educação
mais consciente e libertadora e mais cuidado/ compreensão entre as
pessoas.
Considerando
o poema "O apanhador de desperdícios" de Manoel de Barros,
o
autor critica uma época em que socialmente perde-se o encanto por
tudo aquilo que é simples e natural e na qual, por outro lado,
valoriza-se o avanço técnico-científico mesmo em sua face mais
destrutiva. Valoriza
o que é desimportante para o sistema. Ele mesmo se percebe simples e
valoriza a poética sensível que dá espaço aos silêncios. O
neologismo “invencionática” é criado a partir de uma analogia
com o termo “informática”. Do ponto de vista semântico, as duas
palavras se contrapõem, uma vez que a palavra “informática” é
ressignificada no poema e se refere as “palavras fatigadas de
informar”, enquanto “invencionática” relaciona-se com invenção
e criação.
Considerando
a animação Man de Steve Cutts,
a
personagem central pode representar o potencial de transformação
social do homem que afeta tanto os cenários urbanos quanto a
natureza de forma negativa. O vídeo apresenta o homem como
insensível
às questões ambientais incapaz de
refletir sobre os impactos causados por
sua atuação sobre a natureza. Guarda
uma relação inversa com o poema “Apanhador de desperdícios” já
que a importância dada às coisas pelos personagens principais é
oposta. No entanto, a crítica social das duas obras apontam para a
mesma reflexão: precisamos ser mais simples e cuidar da natureza.
Porém O
vídeo “Man” não
apresenta
ações que podem ajudar a reduzir o consumo e proteger o meio
ambiente, só
faz a crítica sarcástica.
A obra “Cadeirada” do grupo
Barbatuques, guarda relação direta com o poema e inversa ao vídeo,
já que produz um belo arranjo musical utilizando apenas o corpo e a
interação brincante entre as pessoas do palco e da plateia,
quebrando o individualismo, o monetarismo e a opulência.
A
partir da análise da animação “This land is mine” de Nina
Paley e do que aprendeu neste ano, vemos que
a
preocupação da Humanidade com a
vida em geral é ausente, assim como no vídeo anterior.
A
animação “This land is mine” retrata todas as guerras em torno
da Terra Santa e leva-nos ao imediato questionamento sobre o quê, de
fato, significa a guerra, além do extermínio humano. O
estabelecimento da propriedade privada é o elemento gerador da
guerra, da disputa de poder e das classes sociais. Nesse
sentido, há uma relação com a canção
“Banditismo por questão de classe”, na
qual
a violência ocorre por
questão de classe. A violência está cristalizada na história das
nações. Vemos na
constituição federal que o monopólio da força é do Estado,
proibindo qualquer organização paramilitar. Isso controla os ímpetos agressivos das pessoas dentro de um mesmo país, conferindo identidade nacional, mas sem
questionar a violência contra outros estados.
AGORA
AS OBRAS DO PAS 2ª ETAPA:
1-
A canção Sobradinho, faz menção a remoção de populações
de seus territórios de origem em função da construção de
represas e de transposições de rios. Tal questão se faz bastante
atual e traz consideráveis embates políticos, como aqueles que se
referem à construção da usina de Belo Monte e a efetiva construção
do setor Noroeste em Brasília. Uma consequência socioespacial dessa
construção foi a devastação da memória e do patrimônio
histórico da região, sem respeito algum à população ribeirinha.
A música foi composta com o objetivo de protestar contra a
construção da usina de Sobradinho no interior da Bahia. Como o
movimento ecológico ganhou força nas últimas décadas, a pauta de
reivindicações contra a construção das usinas ampliou-se,
incluindo o debate sobre a utilização de outras fontes renováveis
de energia que não causem um impacto tão grande no meio ambiente,
como energia eólica e solar. Ainda hoje grupos de pessoas são
desenraizadas dos seus locais de nascença e socialização sem
consulta às comunidades envolvidas, por projetos alheios a elas, que
dificilmente as beneficiaria. Muitos grupos, entre eles pobres,
negros e índios, ainda resistem para manter sua identidade , sua
história e condição de cidadania em diversos lugares do mundo.
Infelizmente, nem sempre os marginalizados tem um suporte de um
movimento social ou uma ONG, como aconteceu com a Estamira.
2-
A canção “Santuário”, aborda uma questão central que é
a vida nas matas sendo afetadas pelo avanço de empreendimentos
capitalistas como, por exemplo, o setor imobiliário. Santuário,
assim como a canção Sobradinho, traz a crítica sobre a maneira
como o homem se relaciona com o meio ambiente e com os outros seres
humanos. O título “Santuário” faz menção ao terreno que era
tido como sagrado pelos índios, mas esta disputa fundiária e
étnica, transcende a questão religiosa. O documentário “Índios
do Brasil” mostra que muitos brasileiros desconhecem o que é ser
índio, tendo uma visão muitas vezes estereotipada e preconceituosa.
Várias pessoas entendem que índio deve viver longe dos brancos.
Essa visão corroborou para que perdessem o direito de posse do seu
“Santuário” localizado no atual setor Noroeste em Brasília.
Como no documentário “Ilha das Flores”, a canção traz a
crítica de um sistema alienado, mais voltado ao dinheiro do que a
qualidade de vida coletiva.
3-
Observando atentamente os elementos da pintura abaixo podemos
afirmar:
Mata
reduzida a carvão. Félix Émile Taunay, óleo sobre tela, 135 x
195.
A
pintura “Mata reduzida a carvão” mostra um claro contraste entre
as duas partes da floresta: uma que fora drasticamente afetada pela
ação humana e outra cujos impactos da ação humana não se deram
da mesma forma. O ser humano está presente nos dois lados, sempre
pequeno frente a grandeza da obra
divina que é a natureza. . Este quadro não é um simples registro
botânico, trazendo críticas sociais e elementos artísticos de uma
época. Esta tela foi pintada no século XIX, por isso podemos
perceber elementos do romantismo tais quais: contraste entre o bem e
o mal; predomínio do belo, mesmo considerando os erros humanos. A
crítica apresentada na
tela é ainda atual, por isso ela é cobrada no PAS/ UnB em diálogo
com outras obras que trazem a reflexão sobre as interações humanas
com a natureza e a necessidade da sustentabilidade.
4-
A partir do ensaio fotográfico “Sufocamento” de Pedro Davi ,
Sufocamento
– Pedro David
é
possível notar como a paisagem natural é modificada pela ação
humana a partir da coabitação de diferentes espécies de árvores,
algumas das quais plantadas propositalmente para fins de produção
de diferentes bens de consumo. Os pinheiros plantados geometricamente
alinhados dão a impressão de que as árvores nativas não estão em
seu habitat natural. Essa questão pode ser pensada sociologicamente
ao considerarmos que tal planejamento (de modificação das paisagens
naturais) se deve aos interesses do capital que avança sobre as
paisagens naturais por todo o Brasil. O ensaio Sufocamento, de Pedro
David, ao fotografar árvores nativas rodeadas por plantações de
eucalipto não faz menção ao processo humano de isolamento
de pessoas que se encontram fora do padrão. Mesmo assim, podemos
fazer algumas analogias sociológicas frente ao processo de produção
moderno, extremamente padronizado, que exclui, ou oprime não só
plantas nativas, mas também populações de dominados
historicamente. Nos filmes “Estamira” e “Índios do Brasil”
podemos observar grupos de pessoas que resistem às adversidades de
nosso sistema social que os estigmatiza e os sufoca, como as árvores
nativas presentes no ensaio fotográfico. A Constituição de 1988,
feita com a participação de setores diversos da sociedade civil,
traduz o sentimento de liberdade, democracia e cidadania de um país
que experimentara cerca de duas décadas de regime autoritário. Ela
é um marco na resistência dos direitos sociais, que na prática
ainda não se estendem a todos, como visto nos filmes.
Qualquer
dúvida façam aqui neste blog, que respondo domingo de noite. Bons
estudos.
Qualquer
dúvida façam aqui neste blog, que respondo domingo de noite. Bons
estudos.
Ainda farei mais uma postagem na próxima semana de considerações finais e mensagem de final de ano.