Mais
um ano se inicia. Mas este tem entusiasmo, ansiedade e sensações
conflitantes a mais: volto depois de um ano de licença maternidade.
Agora são 4 filhos para dividir minha atenção com as minhas 13
turmas de 38 estudantes cada (sendo que mais da metade não conhece
meu jeito)! Isso me dá medo por um lado: será que vou conseguir ser
boa mãe e professora? Por outro, me empolga, pois isso é
o que
sempre quis:
vários filhos e pessoas para trocarmos ideias, afeto, experiências
e crescermos juntos. Adoro desafios, diversidade e novidades!
Então
começou a semana pedagógica… Os
professores vão chegando cada um no seu tempo. Se abraçam, beijam e
trocam amenidades. Começa
a primeira reunião de trabalho. Uma dinâmica de apresentação
ocorre com desejos de paz, amor, tolerância e abertura ao outro.
Depois um trecho da bíblia e uma oração cristã
“abençoam”
o grupo. A partir daí as
agruras
de ser professor vão
se evidenciando paulatinamente.
O
diretor apresenta as leis que regem nosso edílico sistema
educacional e
chama atenção dos colegas para a responsabilidade com horários,
coordenações e cargas. Lembra que o ministério público está
investigando funcionários estatais e que está tentando rever a
“regalia” das coordenações externas. Nas entrelinhas entendo:
existem pessoas estudadas e poderosas que consideram o professor um
“privilegiado” por ter “liberação” de 6 horas semanais para
trabalhar em casa preparando aulas e corrigindo produções dos
alunos. Neste momento tenho raiva! Sinto-me incompreendida,
injustiçada e desvalorizada como profissional. Dedico muito mais
tempo que isso fora da escola para conseguir um padrão de qualidade
pedagógico razoável e ainda me acham folgada! Porém,
consigo levar de maneira bem-humorada começando a escrever esta
crônica e fazendo minha autoestima de leonina prevalecer.
Agora
começa o momento mais conflituoso: a
discussão do calendário. Todo o projeto e ações coletivas do ano
são decididas nesse momento. Ficamos um tempo quase insuportável
discutindo reposições aos sábados… Aquele espírito de paz,
harmonia e de ouvir o outro quase se esvai por completo… Felizmente
as pessoas retomam o prumo e as questões, mesmo com posicionamentos
as vezes acalorados, vão avançando. Os pontos mais controversos
são: conselho de classe participativo, avaliações com pontuações,
formas de executar projetos diversificados e datas de eventos que
custem menos ao processo letivo e surtam maior efeito pedagógico. As
votações são feitas. Perco algumas, ganho outras.
No
fim, tudo termina bem com lanche coletivo e reunião já com a
coordenadora
pedagógica
escolhida
democraticamente. Ideias vão surgindo e sendo trocadas, articulações
de trabalho começam a
se estabelecer, as parcerias nutrem, sinto-me revigorada, criativa de
novo! Que venham as aulas!