Vamos lá!

Acredito em um livro como creio nos sonhos ,

dedico-me à troca de pensamentos como às pessoas que amo



quinta-feira, 13 de agosto de 2020

5 meses de quarentena, meu aniversário, semana do estudante e final do 1º bimestre

Amores, 

Hoje faz 5 meses que começou a quarentena. Por coincidência também é meu aniversário de 45 anos. Passei o dia todo corrigindo tarefas para fechar a nota até amanhã, prazo máximo dado pela direção para fechamento do 1º bimestre. Fui meio pega de surpresa. Achei que só fecharíamos as notas no final do semestre, já que ele ficou menor e conturbado. Desde quarta da semana passada estou trabalhando mais para colocar tudo em dia, pois eu fiquei 20 dias mal da dengue e ainda sofro muito para mexer na plataforma. Além disso, quando vocês mandam fotos de escritos no caderno fica muito mais difícil e demorado para corrigir. Estamos todos aprendendo a lidar com a educação remota. Já evolui, mas tenho muito que aprimorar. Sei que vocês estão fazendo o que podem também. Na hora da correção sinto que sou dura, mas alivio ao definir a nota final. Quero mostrar em que devem melhorar, mas sei das inúmeras dificuldades e superações que estão passando, como eu também. Sinto que estou ficando mais sábia, superando antigas neuroses e abrindo espaço efetivo para realizar sonhos e me cuidar. Nesse exato momento estou muito cansada, mas em geral estou fazendo de tudo um pouco com mais leveza do que fazia antes. Espero que consiga passar essa tranquilidade a vocês. Estamos juntos nessa jornada e quero apoiá-los o máximo que eu puder. 

Estou terminando de corrigir os exercícios do livro e entrarei na redação final em grupo na sequência. Essas duas atividades foram as que mais valeram até agora, pois leitura e escrita são habilidades básicas para qualquer cidadão. A redação coletiva exige mais recursos acadêmicos e sociais de vocês, me sinalizando de fato o que aprenderam no bimestre a ponto de conseguirem expressar. Essa tarefa parte da temática "A formação dos jovens na atualidade", em homenagem ao dia do estudante (11/8). A ideia é escrever um texto bem articulado, ancorando todo o conteúdo sociológico aprendido na análise da obra do PAS: "Aos olhos de uma Criança" - clipe Emicida. 

 

 A música é trilha sonora do filme "O menino e mundo", animação longa metragem brasileira excelente! Não consegui disponibilizar aqui, mas quem conseguir o link pela internet me manda por zap que eu publico.

Nesta sexta às 15h farei um meet de atendimento aos alunos que estão com dúvidas em relação às notas. Minha meta é entregar no grupo de aulas de sociologia as planilhas de notas das turmas até 14h. Na próxima semana teremos conselhos de classe e depois farei reunião on-line com os responsáveis de vocês. 

Infelizmente me frustrei na minha meta. Mas escrevi dois textos que vou disponibilizar na plataforma e abaixo, sobre minhas angústias no processo de fechamento do bimestre: 

CONSIDERAÇÕES SOBRE AVALIAÇÕES E NOTAS

    Fechar o bimestre é a tarefa mais difícil e chata para mim, enquanto professora. Avalio o tempo todo e troco percepções, porém colocar isso em algarismos é outra história. A nota é injusta por fundamento. É desumano definir em um número frio e vazio o processo de aprendizagem de alguém, o qual mal conheço.
    Tenho cerca de 200 alunos a cada semestre. Dificilmente consigo aprender o nome da maioria. Leio com carinho e atenção todas as tarefas que me entregam, dando dicas para melhorar o aprendizado. No entanto, quando dou a nota, geralmente sinto mal estar, como se algo estivesse errado. E está! Esse é o momento mais conflituoso da relação professor-aluno. Todo o trabalho que faço de inclusão, apoio mútuo, compreensão, diálogo e estimulação se perde um pouco quando chegam os “resultados”.    Ninguém quer ser julgado como um número! É justo que os estudantes se sintam injustiçados. Às vezes até se acham perseguidos (muito comum na adolescência). Mas o que fazer?
    Sempre há coisas que não gostamos no trabalho, na casa, nas relações, no sistema. Maturidade é saber lidar com isso, fazendo escolhas e assumindo responsabilidades. Então, lido da seguinte forma com essa chatice de nota: uso como instrumento para estimular a dedicação ao estudo. Gosto de dar pontos extras por isso. Quanto mais a pessoa consegue fazer mais ganha, sem limites. Aqueles que têm dificuldades, por diversos motivos, deixam de ganhar alguns pontos, mas sempre podem ganhar outros e vencer os obstáculos do sistema. Nessa perspectiva, a nota entra como pontuação de jogos, para estimular a brincadeira, sem o peso de avaliar ou definir a pessoa. Gostaria que internalizassem essa percepção mais lúdica das notas para o processo de aprendizagem de vocês ser mais leve, saudável, feliz e nossa relação ficar cada vez melhor.
    Lembrem sempre do nosso principal motivo de estarmos aqui: APRENDER. O que aprendemos ninguém nos tira nem se perde. A avaliação é importante nesse processo, com ou sem nota. Faz parte da troca, do autoconhecimento e do aperfeiçoamento pessoal ou coletivo. Estou aberta à avaliação de vocês, pois quero estar sempre melhorando meu trabalho e minha ação no mundo. Com diálogo, amor e dedicação construiremos uma aula, uma escola e uma sociedade cada dia mais satisfatória para todos. “Sonho que se sonha junto é realidade” (Raul Seixas)


AVALIAÇÃO E NOTAS NA PANDEMIA

    As dificuldades no processo de avaliação estão aumentadas na pandemia. Fomos todos surpreendidos e estamos nos adaptando, sem certezas ou controle. Como avaliar e dar notas neste contexto em que o novo e o precário nos cercam cotidianamente? Que parâmetros usar? Qual nosso objetivo aqui? Onde queremos chegar? Essas questões estão presentes constantemente enquanto elaboro, corrijo e dou notas em tarefas, tornando esse processo mais lento e angustiante. Mas como evitar essa reflexão? Como professora de Sociologia devo estimular o senso crítico, a reflexão e desnaturalização das relações e padrões estabelecidos.
    Como docente fiz a escolha de usar a avaliação e a pontuação para estimular o estudo. Aprendi que se dou nota alta para todos, os estudantes se sentem pouco reconhecidos. Por outro lado, quando dou notas baixas, ficam com raiva da disciplina, de mim ou de si mesmo. Nos dois casos, a produção tende a cair e, em consequência, o aprendizado também. Então, procuro fazer tarefas diversas que mobilizem recursos variados, de modo que todos, com suas facilidades e dificuldades distintas, consigam realizar uma média razoável de trabalhos. Claro que sempre têm aqueles que fazem tudo e tiram notas acima de 10 pontos. Também é recorrente uma pequena porcentagem de alunos que ficam abaixo da média. Isso era fácil de resolver, adequando os exercícios seguintes, com graus de dificuldades diferentes, dentro da zona de desenvolvimento de cada grupo. Dessa maneira todos eram estimulados no que precisavam e davam conta. Além disso, sempre estimulei a troca de conhecimentos com atividades coletivas.
    Agora, como fazer isso na quarentena? As primeiras atividades coletivas me decepcionaram um pouco. Por outro lado, as últimas me deixaram razoavelmente satisfeita. Todas me deram muito trabalho para orientar e corrigir. Levei muito mais tempo do que eu esperava e entrei muito mais em crise para fechar o bimestre. É claro que tenho outras demandas em casa e existenciais, das quais era livre antes. Mas o que me incomoda profundamente na condição atual é a sensação de impotência frente aos excluídos do processo. O que podemos fazer com os que estão com acesso remoto limitado? O que essas pessoas estão passando? Será que o aluno deixou de fazer por escolha ou falta dela? A nota baixa vai estimulá-lo a correr atrás do prejuízo ou vai desanimá-lo geral? Por outro lado, tem aqueles que fizeram tudo, mas com um grau de dificuldade baixo (já que à distância minha condição de apoio é menor). A nota muito alta vai reforçar o comportamento dedicado ou gerar apatia por sentirem que já sabem tudo o que precisam?
    Estou compartilhando esses dilemas, para ter empatia e apoio de vocês. Juntos somos mais fortes e sábios. Nosso objetivo principal é comum: O APRENDIZADO PARA A QUALIDADE DE VIDA DE TODOS. Recebam as notas com esse olhar, para crescerem e se apoiarem. Ela é um recurso, um meio, um índice de pesquisa, jamais um fim em si. Estamos todos sempre em processo de formação e desenvolvimento. O fim é a morte. Queremos viver, crescer, amar, trocar, criar, semear, sonhar, inovar, entre tantas outras coisas que nunca caberão em um número frio e burocrático. Somos muito mais! Sigamos juntos, de mãos dadas.