Amores,
nessa semana debatemos os filmes relacionando com
tudo o que vimos no bimestre. Em algumas turmas já trabalhamos os
textos da VG (que já estão disponíveis no moodle - link Sociologia
- para todos). Como o debate flui diferente em cada coletivo
diferente, farei esta postagem em formato de aula de revisão para a
prova interdisciplinar. Só não fiz videoaula por causa da minha
inabilidade tecnológica. Mas esta já vai ajudar o bastante:
A VIOLÊNCIA é um FATO SOCIAL (Durkheim), geral,
exterior e coercitivo, portanto tratada pela Sociologia enquanto
fenômeno com causas, consequências e possíveis soluções
COLETIVAS. Casos desviantes, de loucos e psicopatas, não entram em
nossa análise. Tratamos enquanto lógica macrossocial, reproduzida e
atualizada nos ambientes microssociais. Assim, aprofundaremos nossa
compreensão desse fenômeno social, percebendo a relação dialética
entre essas duas esferas por meio dos filmes, conteúdos e vivências
dadas neste bimestre:
MACROSSOCIAL:
A violência estrutural
existe e se reproduz há muitos séculos, por isso temos a sensação
de que ela sempre existiu, parecendo, portanto, natural. No entanto,
podemos entendê-la como construção social, assim como tudo que
envolve as sociedades humanas, para podermos resolvê-la. Por meio da
compreensão histórica observamos como os elementos se reproduzem
para pensarmos em alternativas pragmáticas:
DESIGUALDADE SOCIOECONÔMICA - Este elemento
existe desde o surgimento da propriedade privada. Ocorre nos modos de
produção escravista, feudalista e capitalista, gerando exploração,
dominação e guerra. No capitalismo, a exploração se dá por meio
da MAIS VALIA, na qual o trabalhador é expropriado de parte do fruto
do seu trabalho. Ela é mais alta quanto mais vulnerável for o
proletariado. O desemprego estrutural (EXÉRCITO INDUSTRIAL DE
RESERVA) é um dos principais fatores que deixam o empregado com medo
de questionar a exploração na qual está submetido. Quanto maior a
evolução tecnológica, associada à concentração de renda e o não
apoio do Estado à seguridade social, maior é esse desemprego.
Pessoas sem trabalho, marginalizadas ou excluídas, ficam mais
suscetíveis a receber, internalizar e cometer violências. Em países
com alto índice de excluídos, com crises recorrentes, tendem a ter
altos índices de mortalidade, como o Brasil. Buscando resolver esses
problemas surge a utopia socialista, que se realizou enquanto
revolução na Rússia, no final da primeira guerra mundial. O
socialismo real se concretizou como um capitalismo de Estado, que
gerenciando a mais valia, diminuía a desigualdade e evitava crises
de superprodução. Porém, mantinha alguns vícios do sistema e
intensificava outros, reproduzindo a violência.
GUERRA FRIA – O imperialismo está na lógica
expansionista do sistema capitalista e o socialismo real a manteve
também. Após a segunda guerra mundial, dois países despontaram
como grandes potências imperialistas: os EUA (capitalista) e a URSS
(socialista). Nesse período, de 1945 a 1989, ocorreu a Guerra Fria,
sem confronto direto entre as duas nações, mas com muitas mortes
decorrentes de conflitos civis em ditaduras estabelecidas em todo o
mundo.
DITADURAS – Na América Latina as ditaduras,
salvo a Cubana, eram adeptas ao capitalismo norte-americano,
inclusive com investimento deste nos regimes que o apoiavam. A
resistência armada se dava pelos simpatizantes do outro lado, mas
existiam pessoas que lutavam pacificamente contra a ditadura em
diversos setores, como jornalistas, estudantes, professores,
artistas, militares e cristãos (visto no filme “Batismo de
Sangue”- 3ºano). Como a disputa se dava também no campo
ideológico, no Brasil todos que apoiavam o regime militar eram
rotulados de “direita fascista”, os que eram contra de “comunista
terrorista”(mesmo não sendo). Essa polarização tem alguns
resquícios até hoje no mundo, assim como a prática de tortura e
violência policial.
CHERNOBIL – A guerra fria tinha este nome
principalmente porque se vivia em constante tensão frente a
eminência de um ataque nuclear entre os países envolvidos. O
acidente na usina nuclear em Chernobyl, na Ucrânia, ocorreu em 1986
e, apesar de ter tido consequências ecológicas terríveis para o
planeta terra, acelerou o processo de abertura da URSS e o fim da
guerra fria. As nações envolvidas perceberam que não dava para
brincar de guerra atômica. Pena que 30 anos depois do acidente
parece que o mundo está esquecendo dessa grande e dolorosa lição.
FILME "NO" - Este filme retrata o processo de
abertura no Chile em 1988. Uma das ditaduras mais violentas do nosso
continente estava sem respaldo internacional e seu ditador Pinochet
teve que lançar um plebiscito pela continuidade ou não de seu
governo. As campanhas do Sí e do No mostram bem os embates da época,
que também ocorrem hoje em nosso país. Além disso, dá dicas de
como podemos superar desavenças de maneira construtiva e
democrática.
OLIMPÍADAS E PARAOLIMPÍADAS- A despeito de terem
como um de seus principais objetivos a integração pacíficas dos 5
continentes, as olimpíadas são utilizadas como veículo de disputa
e dominação ideológica, principalmente nos momentos de guerra. Se
por um lado reforçam valores de superação, resistência, respeito
e organização coletiva, por outro também trazem elementos de
exclusão, reforço de imperialismo cultural e naturalização de uma
meritocracia com bases injustas. A compreensão ampla e complexa
desses eventos, desenvolvem nosso senso crítico, para filtrarmos o
que pode nos ajudar a construir um mundo mais justo, pacífico e
solidário.
MICROSSOCIAL:
A história e a biografia
estão em constante relação dialética. Aprendemos em nosso
cotidiano valores e comportamentos passados milenarmente por nossa
sociedade. Atualizamos e reproduzimos nos ambientes e relações
próximas, muitas vezes sem perceber, toda a violência observada no
macrossocial. Tomando consciência, podemos reorientar nossas ações
e quebrar este ciclo vicioso:
COMPETIÇÃO EXCLUDENTE – Em nossa sociedade as
crianças de 5 anos já conhecem a “brincadeira dança das
cadeiras”. Ela simula o exército industrial de reserva, criando
uma condição de escassez artificial. A pessoa que perde é excluída
do jogo até sobrar somente um: o vencedor. Esta disputa é típica
de sociedades como a nossa, dificilmente inteligível para outras de
modo de produção diverso. Em outras competições mais tradicionais
o perdedor e o vencedor jogam o tempo todo, só no final se
diferenciam. O problema é que esta inocente brincadeira é
naturalizada e generalizada para outras, onde o divertimento deixa de
ser a interação e sim o excluir/ massacrar o outro.
BULLYING – Este fenômeno social vem
aumentando em números. Talvez porque estão aparecendo mais, pois
estamos combatendo, mas de qualquer forma é um FATO SOCIAL que está
longe de ser superado. Provavelmente a explicação do item anterior
justifique a dificuldade que temos em anular este tipo de violência.
Quando aprendemos desde cedo que “o outro é meu adversário, ele
que vai roubar meu lugar, me machucar, me ridicularizar, me
massacrar”, então “eu luto contra ele, antes ele ser
menosprezado do que eu”. Aí vira uma guerra de cegos, onde a
violência é só mais uma “brincadeira”, que somente quem é
“mente fraca” não sabe lidar. Isso é generalizado para tudo:
piadas, redes sociais, zoação em sala de aula, brigas infantis
entre chapas de grêmio estudantil.
DISPUTAS DE CHAPAS E DESRESPEITO – Como
analisado, os desrespeitos ocorridos nas últimas semanas entre
chapas do grêmio foram mimetizações de um sistema social
extremamente pervertido e grosseiro. O Brasil foi construído a
partir de explorações, dominações e ditaduras. Temos pouco tempo
de democracia, portanto ainda estamos aprendendo a lidar com
conflitos e disputas ideológicas de maneira pacífica e auspiciosa.
No entanto, se tomarmos consciência das reproduções que fazemos
inadvertidamente podemos exercitar a democracia a partir de nós, do
grêmio, da nossa escola, da nossa família, da nossa cidade.
TECNOLOGIAS SOCIAIS – Ao compreender os meandros
da relação dialética entre o macrossocial e o microssocial, somos
capazes de criar alternativas práticas. Vários pensadores,
estudantes e profissionais criaram tecnologias sociais a partir do
conhecimento adquirido para transformar coisas que discordavam.
Abaixo cito algumas:
-
JOGOS ALTERNATIVOS – Como visto em aula, podemos usar jogos para
questionar e desnaturalizar “brincadeiras” agressivas e
excludentes. Crianças, adolescentes e adultos aprendem de maneira
prática e lúdica que incluir é muito mais gostoso e é possível
inclusive com disputas saudáveis.
-
SEMANA DA VIDA – Definida por intelectuais orgânicos presentes na
Secretaria de Educação para que todos os estudantes da rede tenham
um momento coletivo de apreensão do conhecimento transdisciplinar,
com temas da atualidade, espaço de criação, diálogo e ação mais
aberto.
-
MÉTODO PAULO FREIRE – Paulo Freire organizou um método de
alfabetização e ensino onde o educando é sujeito do processo de
conhecimento tanto quanto o educador. Ele baseia-se na
horizontalidade, no diálogo e na valorização da diversidade de
capital simbólico. Minhas aulas são baseadas neste método. Quem se
interessar em conhecer mais, além de pesquisar na internet, podem
pegar livros em nossa biblioteca desse autor. O mais conhecido dele é
“Pedagogia do Oprimido”, terceiro livro mais citado no mundo
acadêmico.
-
ENCONTROS EXTRACLASSE – Todo bimestre exijo que façam duas
atividades extraclasse com outros colegas da escola. O objetivo é,
além de ampliar o capital simbólico de vocês, estimular o encontro
e a organização coletiva. Não basta entendermos os mecanismos de
reprodução do individualismo e da exclusão. Precisamos
enfrentá-los com exercícios práticos. A solidariedade, a
organização coletiva, o encontro interpessoal presencial, a
superação de obstáculos materiais, precisam ser incorporados em
nossas vidas.
-
HISTÓRIA ORAL – A história por muito tempo foi contada somente
pela perspectiva dos incluídos, ou seja, dos que escreviam de
maneira academicamente reconhecida, ou tinham meios de divulgação
de suas narrativas. O problema é que nessa perspectiva a vivência
das classes desfavorecidas ficava de fora ou distorcida.
Recentemente, por meio de filmagens a voz dos próprios atores
sociais envolvidos tem dado uma visão mais complexa das relações e
construções coletivas, incluindo narrativas inéditas
anteriormente, como nos filmes “Conterrâneos Velhos de Guerra”
(2º ano) e “Batalhas pela História” (3º ano).
FRIDA KAHLO- México 1907/ 1954 – Ela é um
exemplo de resistência e superação. Em uma sociedade machista,
racista e dominada pelo capitalismo norte-americano, tinha tudo para
ser excluída e vitimizada, mas ousou e deixou uma mensagem inovadora
por meio de seus quadros e atitudes. Com apoio de pessoas que a
admiravam, ou comungavam de ideais comuns, conseguiu deixar a marca
de uma identidade feminina e mexicana valorizada. Aprendemos mais com exemplos do que com palavras. Conhecer a biografia de empoderamento de pessoas
como nós, ou até em condições mais adversas, podem nos motivar a
superar condicionamentos sociais, buscando apoio onde antes tínhamos
dificuldades de enxergar.