Vamos lá!

Acredito em um livro como creio nos sonhos ,

dedico-me à troca de pensamentos como às pessoas que amo



domingo, 12 de junho de 2016

Em formato de fragmentos de diálogos

Querid@s,


nesta postagem continuarei com o projeto de dar exemplos de textos com formatos diversificados. Agora trabalhei o estilo diálogo. Reproduzirei algumas falas colocadas nas aulas desta semana que são significativas para o conteúdo teórico e prático trabalhado:

(Dúvidas e considerações acerca do filme Batismo de Sangue)

“_ Não entendo como que sendo ditadura a universidade estava pichada, os estudantes se reuniam…”
_ O golpe de 1964 não foi violento no começo, a repressão só ficou evidente a partir de 68. Por isso, tem gente com medo deste processo de impeachment ser um golpe, já que no começo nem sempre parece ditadura.

“_ Eu não entendi direito: eles se infiltraram na igreja, fingiam que eram padres para ajudar o combate à ditadura?”
_ Não, eles eram padres de verdade e acreditavam fielmente nos ensinamentos cristãos. Por isso, não aceitavam tortura, violência e desigualdade. Eles davam apoio na retaguarda, para salvar vidas e ajudar o Brasil a se livrar da ditadura que consideravam ser perniciosa. Também a igreja católica foi fundamental no início do movimento em prol da reforma agrária.

“_ Eu não conhecia essa história. É bom sabermos disso para não acharmos que ditadura é bom.”
_ Essa era a nossa intenção ao escolher esse filme. Muitos jovens não conhecem nossa história. Além disso, perceber que não tinham somente comunistas lutando contra a ditadura é importante para quebrarmos o maniqueísmo que temos hoje sobre direita e esquerda, cristãos e marxistas.


(Dúvidas e considerações acerca do filme Conterrâneos Velhos de Guerra)

“_ Legal ver que o mendigo era alegre e tinha orgulho de ter construído Brasília”
_ Essa foi a parte que mais me tocou neste filme na primeira vez que vi, lá na UnB. Achei a cena linda: um mendigo, numa situação difícil, não se sente excluído, ama a família, canta, dança, recita poema, é alegre! Então na época refleti: se eu me espantei em ver que um mendigo era capaz de fazer tudo isso que também sou capaz, eu achava no fundo que ele não era igual a mim… Eita, eu introjetei ideologia elitista, sem perceber, mesmo sendo muito contra ela!

“_ Como você sabe que o Oscar Niemeyer não sabia dos acidentes?”
_ Acho improvável que soubesse da quantidade e da desumanização no processo de construção, pois era comunista e dificilmente compactuaria com isso. Assim como JK, realmente estava querendo construir uma sociedade diferente, que tirasse o país do atraso colonial. No entanto, como todos nós acabou reproduzindo ou ajudando a manter muita coisa do sistema que questionava. Ele próprio lamenta isso no filme. Brasília de fato gerou transformações para o Brasil, mas também manteve muita relação arcaica.


(Dúvidas e considerações acerca do filme Bullying)

“_ Quem aceita o bullying é gente de mente fraca. É só reagir e fazer o mesmo com o outro”
“_ É muito fácil dizer o que o outro deve fazer, o difícil é agente fazer o que deve ser feito para mudar a nossa condição”
_ De fato o filme deixa a gente irritada pelos personagens não saírem daquela condição de oprimidos. Mas ele mostra bem como qualquer pessoa pode ser suscetível a situações como essas, quando estão em momento ou condição fragilizada (como era o caso do menino que acabara de perder o pai e a menina que tinha pais migrantes ilegais).

“_ Quem faz o bullying são pessoas que têm problemas em casa”
_ Em primeiro lugar, quem não tem problemas em casa? Em segundo lugar, muitos de nós, pessoas “normais” cometemos bullying. Hoje vimos exemplo aqui dos meninos vaiando a menina. Eu mesma, com 9 anos cometi um ato de bullying com mais 5 crianças contra um menino que a nossa professora amada detestava. Fomos conversar com ele na saída da escola para que melhorasse com a professora, ele riu e batemos nele. Ele já era excluído e sua permanência na escola ficou insustentável. Podia ter terminado em tragédia, mas ficou apenas na tradicional injustiça e exclusão. Ou seja, esses padrões de violência e exclusão são aprendidos e naturalizado por todos nós desde crianças. Se não aprendermos a questionar iremos reproduzir.

“_ Eu acho que estão exagerando: tudo agora virou bullying, racismo ou machismo. A sociedade está ficando fresca!”
_ Discordo: o bullying vem aumentando em números, assim como o feminicídio. São fatos sociais (gerais, exteriores e coercitivos) observáveis estatisticamente e há uma preocupação internacional no enfrentamento desses problemas. A violência é uma construção social com um legado milenar atualizada em nosso cotidiano porque a naturalizamos e reproduzimos sem questionamento. Por exemplo: as pessoas que foram zoadas neste debate eram mulheres e os que foram aplaudidos eram homens - será que foi apenas coincidência?

(Dúvidas e considerações acerca do caderno)

"_  Professora, faltei a aula porque estava doente posso te mostrar o caderno?"
  _ Todos os alunos que faltaram podem trazer na próxima aula que vou olhar

“_ Professora, não trouxe meu caderno, posso mostrar na próxima aula?”
  _ Vou olhar de todos os que quiserem mostrar, mas somente os escritos a partir desta aula como: o filme (Conterrâneos ou Batismo), as dinâmicas e debates desta semana, o filme NO, o filme Frida, o filme Chernobil, a exposição que vocês viram com os colegas, o tema Bullying.

(Dúvidas e considerações acerca do filme NO)

“_ Por que o ditador do Chile fez o plebiscito se era uma ditadura?”
_ As ditaduras na América Latina na década de 60 e 70 foram financiadas pelos EUA, dentro do contexto da Guerra Fria. Em 1988, já estava no final dessa guerra. O acidente em Chernobil em 1986 fez com que Gorbachov, governante da URSS iniciasse cooperação internacional para a resolução do problema, acelerando o processo de abertura e o fim da disputa bélica com os EUA. No Brasil, por exemplo, já estávamos fazendo nossa constituição cidadã. Então, não havia sustentação internacional para a ditadura no Chile. Pinochet precisava lançar um plebiscito que legitimasse sua permanência.

“_ Por que haviam conflitos no grupo que defendia o NO, se todos eram contra a ditadura?”
_ A maioria achava que o espaço da campanha era para dar voz aos oprimidos e violentados da ditadura, sem pretensão de vencer o plebiscito, já que entendiam ser forjado para a manutenção do regime fascista. Já o publicitário e alguns de seus amigos, acreditavam na possibilidade de vitória, desde que a campanha suscitasse a alegria e a fé na democracia. De qualquer forma, em qualquer grupo que se pretende democrático há conflitos, diversidade de opiniões que terá de ser equacionada pelo diálogo e não pela autoridade e força.

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