Querid@s,
nesta postagem continuarei com o projeto de dar exemplos de textos
com formatos diversificados. Agora trabalhei o estilo diálogo.
Reproduzirei algumas falas colocadas nas aulas desta semana que são
significativas para o conteúdo teórico e prático trabalhado:
(Dúvidas e considerações acerca do filme Batismo de Sangue)
“_ Não entendo como que sendo ditadura a universidade estava
pichada, os estudantes se reuniam…”
_ O golpe de 1964 não foi violento no começo, a repressão só
ficou evidente a partir de 68. Por isso, tem gente com medo deste
processo de impeachment ser um golpe, já que no começo nem sempre
parece ditadura.
“_ Eu não entendi direito: eles se infiltraram na igreja,
fingiam que eram padres para ajudar o combate à ditadura?”
_ Não, eles eram padres de verdade e acreditavam fielmente nos
ensinamentos cristãos. Por isso, não aceitavam tortura, violência
e desigualdade. Eles davam apoio na retaguarda, para salvar vidas e
ajudar o Brasil a se livrar da ditadura que consideravam ser
perniciosa. Também a igreja católica foi fundamental no início do
movimento em prol da reforma agrária.
“_ Eu não conhecia essa história. É bom sabermos disso para
não acharmos que ditadura é bom.”
_ Essa era a nossa intenção ao escolher esse filme. Muitos
jovens não conhecem nossa história. Além disso, perceber que não
tinham somente comunistas lutando contra a ditadura é importante
para quebrarmos o maniqueísmo que temos hoje sobre direita e
esquerda, cristãos e marxistas.
(Dúvidas e considerações acerca do filme Conterrâneos
Velhos de Guerra)
“_ Legal ver que o mendigo era alegre e tinha orgulho de ter
construído Brasília”
_ Essa foi a parte que mais me tocou neste filme na primeira vez
que vi, lá na UnB. Achei a cena linda: um mendigo, numa situação
difícil, não se sente excluído, ama a família, canta, dança,
recita poema, é alegre! Então na época refleti: se eu me espantei
em ver que um mendigo era capaz de fazer tudo isso que também sou
capaz, eu achava no fundo que ele não era igual a mim… Eita, eu
introjetei ideologia elitista, sem perceber, mesmo sendo muito contra
ela!
“_ Como você sabe que o Oscar Niemeyer não sabia dos
acidentes?”
_ Acho improvável que soubesse da quantidade e da desumanização
no processo de construção, pois era comunista e dificilmente
compactuaria com isso. Assim como JK, realmente estava querendo
construir uma sociedade diferente, que tirasse o país do atraso
colonial. No entanto, como todos nós acabou reproduzindo ou ajudando
a manter muita coisa do sistema que questionava. Ele próprio lamenta
isso no filme. Brasília de fato gerou transformações para o
Brasil, mas também manteve muita relação arcaica.
(Dúvidas e considerações acerca do filme Bullying)
“_ Quem aceita o bullying é gente de mente fraca. É só reagir
e fazer o mesmo com o outro”
“_ É muito fácil dizer o que o outro deve fazer, o difícil é
agente fazer o que deve ser feito para mudar a nossa condição”
_ De fato o filme deixa a gente irritada pelos personagens não
saírem daquela condição de oprimidos. Mas ele mostra bem como
qualquer pessoa pode ser suscetível a situações como essas, quando
estão em momento ou condição fragilizada (como era o caso do
menino que acabara de perder o pai e a menina que tinha pais
migrantes ilegais).
“_ Quem faz o bullying são pessoas que têm problemas em casa”
_ Em primeiro lugar, quem não tem problemas em casa? Em segundo
lugar, muitos de nós, pessoas “normais” cometemos bullying. Hoje
vimos exemplo aqui dos meninos vaiando a menina. Eu mesma, com 9 anos
cometi um ato de bullying com mais 5 crianças contra um menino que a
nossa professora amada detestava. Fomos conversar com ele na saída
da escola para que melhorasse com a professora, ele riu e batemos
nele. Ele já era excluído e sua permanência na escola ficou
insustentável. Podia ter terminado em tragédia, mas ficou apenas na
tradicional injustiça e exclusão. Ou seja, esses padrões de
violência e exclusão são aprendidos e naturalizado por todos nós
desde crianças. Se não aprendermos a questionar iremos reproduzir.
“_ Eu acho que estão exagerando: tudo agora virou bullying,
racismo ou machismo. A sociedade está ficando fresca!”
_ Discordo: o bullying vem aumentando em números, assim como o
feminicídio. São fatos sociais (gerais, exteriores e coercitivos)
observáveis estatisticamente e há uma preocupação internacional
no enfrentamento desses problemas. A violência é uma construção
social com um legado milenar atualizada em nosso cotidiano porque a
naturalizamos e reproduzimos sem questionamento. Por exemplo: as
pessoas que foram zoadas neste debate eram mulheres e os que foram
aplaudidos eram homens - será que foi apenas coincidência?
(Dúvidas e considerações acerca do caderno)
"_ Professora, faltei a aula porque estava doente posso
te mostrar o caderno?"
_ Todos os alunos que faltaram podem trazer na próxima
aula que vou olhar
“_ Professora, não trouxe meu caderno, posso mostrar na próxima
aula?”
_ Vou olhar de todos os que quiserem mostrar, mas somente
os escritos a partir desta aula como: o filme (Conterrâneos ou
Batismo), as dinâmicas e debates desta semana, o filme NO, o filme
Frida, o filme Chernobil, a exposição que vocês viram com os
colegas, o tema Bullying.
(Dúvidas e considerações acerca do filme NO)
“_ Por que o ditador do Chile fez o plebiscito se era uma
ditadura?”
_ As ditaduras na América Latina na década de 60 e 70 foram
financiadas pelos EUA, dentro do contexto da Guerra Fria. Em 1988, já
estava no final dessa guerra. O acidente em Chernobil em 1986 fez com
que Gorbachov, governante da URSS iniciasse cooperação
internacional para a resolução do problema, acelerando o processo
de abertura e o fim da disputa bélica com os EUA. No Brasil, por
exemplo, já estávamos fazendo nossa constituição cidadã. Então,
não havia sustentação internacional para a ditadura no Chile.
Pinochet precisava lançar um plebiscito que legitimasse sua
permanência.
“_ Por que haviam conflitos no grupo que defendia o NO, se todos
eram contra a ditadura?”
_ A maioria achava que o espaço da campanha era para dar voz aos
oprimidos e violentados da ditadura, sem pretensão de vencer o
plebiscito, já que entendiam ser forjado para a manutenção do
regime fascista. Já o publicitário e alguns de seus amigos,
acreditavam na possibilidade de vitória, desde que a campanha
suscitasse a alegria e a fé na democracia. De qualquer forma, em
qualquer grupo que se pretende democrático há conflitos,
diversidade de opiniões que terá de ser equacionada pelo diálogo e
não pela autoridade e força.
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