Nessa semana vimos a segunda parte do filme Matrix, na qual fica evidente o confronto ideológico e as diversas escolhas dentro do embate. Coloco abaixo algumas cenas importantes:
Relacionamos essas partes com conteúdos diferentes em cada série, que tratarei mais abaixo nos textos de revisão das VGs de cada ano. Agora quero relatar e traçar relações com outra obra que trabalhamos em todas as turmas: a exposição do CCBB - EX ÁFRICA na qual visitamos nessa quarta. Seguem as fotos:
A exposição é de artistas africanos contemporâneos com mais dois afrobrasileiros.
A obra acima é um monumento ao trabalho dos marginalizados deste mundo globalizado.
Essa nos aproxima da perversidade que foi o tráfico negreiro, misturando elementos de opressão com objetos das culturas dos povos escravizados.
Na mesma galeria, há uma série de quadros retratando o acordo de iluminista inglês com líder africana, com intuito de "modernização". Evidencia a dominação cultural eurocêntrica.
Os quadros acima, estavam na galeria 2, onde mostram um olhar diferente sobre a diáspora africana, antiga e atual.
Esse vídeo, retrata assimilação infantil dos padrões de dominação na qual estão submetidos.
Nessa galeria, há fotos de penteados criados na mesma época das libertações dos países africanos, onde uma nova estética é valorizada enquanto identidade nacional.
Essa galeria (4), traz elementos musicais sincréticos de música pop atuais da Nigéria.
Bom, foi um passeio fantástico! Já havia visto a exposição duas vezes, mas ver com estudantes atentos, curiosos e críticos, me acrescentou mais. Isso fez valer meu esforço na organização, me animando para futuros eventos.
Agora irei passar as questões da VG em forma de texto, para vocês poderem pesquisar o vocabulário desconhecido e me trazer dúvidas até esta quarta-feira.
REVISÃO PARA
A VG – 1º ANO
Imagina Como Seria - Fabio Brazza
Imagina como seriaO nosso querido Brasil
Se na matéria estudantil
Se incluísse a poesia
Se nosso prato do dia
Fosse o verso dum poeta
Uma dieta seleta
Pra deixar a mente sadia
(...)
Pra que a molecada aprenda
Com graça e curiosidade
O quanto aprender é bom
(...)
Imagina como seria se ao invés de celulares
Nossos jovens se distraíssem
Lendo livros aos milhares
Seriam suas mentes mais lúdicas
(...)
Mas é que sabotaram
A Educação Brasileira
É perda de tempo ouvir Hip Hop
Pois o que não dá ibope é besteira
A mídia nos entope
Com o lixo do POP
E não com Manuel Bandeira
A mídia nos Dopa
De novela e Copa
E o povo feito tropa
Caminha alienado
(...)
Eu sei que este mundo que tenho imaginado
Não passa de uma utopia
Mas no meu ponto de vista
Acredito que ele exista
Pois tudo existe aonde existe a poesia
Por isso tento fazer minha parte
Pra disseminar sabedoria
Pra que ao menos nossa arte
Não se transforme em mera mercadoria
Cada verso é um resgate
Em nome da poesia
Pra que essa sociedade vazia
Pouco a pouco não lhe mate
O
poema “Imagina como
seria” nos leva a
pensar que os jovens
deveriam ler mais e ter acesso à
arte, à poesia, para
ampliar seu capital simbólico.
Assim como Paulo Freire, o autor pensa que a educação escolar
oferecida precisa melhorar. O texto critica a alienação
e a cultura de massa disseminada
como mercadoria pela mídia. Mas
é contra a ideia do
dinheiro ser
a única coisa que vale neste mundo, por isso devemos valorizar
a poesia, a arte, a reflexão ao invés de nos
conformar com o vazio
social. O filme Matrix
também faz críticas à
alienação em
paradigma vazio que
desumaniza.
Texto:
CONSIDERAÇÕES
EM TORNO DO ATO DE ESTUDAR
– Paulo Freire
(…)
Estudar é, realmente, um trabalho difícil. Exige de quem o faz uma
postura critica, sistemática. Exige uma disciplina intelectual que
não se ganha a não ser praticando-a.
Isto
é, precisamente, o que a “educação bancária” não estimula.
Pelo contrário, sua tônica reside fundamentalmente em matar nos
educandos a curiosidade, o espírito investigador, a criatividade.
Sua “disciplina” é a disciplina para a ingenuidade em face do
texto, não para a indispensável criticidade.
Este
procedimento ingênuo ao qual o educando é submetido, ao lado de
outros fatores, pode explicar as fugas ao texto, que fazem os
estudantes, cuja leitura se torna puramente mecânica, enquanto, pela
imaginação se deslocam para outras situações. O que se lhes pede
afinal, não é a compreensão do conteúdo, mas a sua memorização.
(...)
Não
se mede estudo pelo número de páginas lidas numa noite ou pela
quantidade de livros lidos num semestre.
Estudar
não é um ato de consumir idéias, mas de criá-las e recriá-las.
Nesse
texto, Paulo Freire
defende que
ao ler um texto jamais
devemos apenas
memorizar o conteúdo dele. O que importa para Paulo Freire é a
compreensão, independente da quantidade de páginas lidas. O autor
entende que o estudante tem
luz, conhecimento, jamais o vê como um mero
“a-luno”
que não sabe nada. O
estimula a questionar,
dialogando com o
estudo. O autor critica
a “educação bancária”, termo criado por ele, pois ela aliena
os estudantes. Esse
termo faz uma analogia a
depósitos em contas vazias de banco e estratos para conferir o
saldo, como se os
educandos fossem objetos inertes.
Em momento algum
Paulo Freire é contra
os bancários, nem
faz menção
à comercialização
como alienação
do
povo.
“É
fundamental diminuir a distância entre o que se diz e o que se faz,
de tal forma que, num dado momento, a tua fala seja a tua prática.”
Paulo Freire
Dialogar
nunca é bobagem para Paulo Freire, mesmo ele acreditando que
precisamos agir. Acredita que ao refletirmos e discutirmos mais, nos
instrumentalizamos para superar nossa inércia. Para tanto, o estudo
só é útil quando o relacionamos com a nossa vida e contribui em
nossa prática. Nesse sentido ele deu exemplo: Paulo Freire lutou por
uma educação mais justa e libertária. Hoje colhemos seus frutos.
Dialogar é uma prática fundamental para construirmos relações
mais saudáveis e igualitárias. Precisamos ser coerentes com o que
pregamos, dando exemplo em nossas ações cotidianas.
“Ninguém
educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre
si, mediatizados pelo mundo.”
“Se
a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a
sociedade muda.”
“Não
é no silêncio que os homens se fazem, mas na palavra, no trabalho,
na ação-reflexão”
PAULO
FREIRE
Paulo
Freire, assim como
Chimamanda Adichie, entendia
que existem conhecimentos diversos
e não
melhores que outros.
Por tanto, jamais
devemos obedece
cegamente nossos
mestres e os autores
dos textos. Quanto mais
conhecimento diverso temos, mais empoderados em diferentes situações
estaremos, pois
compreendemos melhor o mundo e as relações.
Conhecimento não
é sinônimo de informação. Os
jovens de dominarem
mais a internet, precisam
da escola para
ajudá-los a refletir, dialogar e utilizar melhor as inúmeras
representações que recebem diariamente.
Vivemos em um mundo com muita informação, mas sem diálogo,
reflexão e ação ela dificilmente se tornará conhecimento útil às
pessoas. Precisamos
treinar
atitudes contra o preconceito e os estereótipos, naturalizados
em nosso paradigma
hegemônico, para
ampliarmos nossos horizontes e melhorarmos nosso meio social.
Exposições
artísticas, dinâmicas, contemplação, análise de filmes, a
organização coletiva,
são relevantes para uma educação de qualidade, já que estudamos
para muito
mais do que
simplesmente passarmos
em provas que nos incluam e
nos mantenham na matrix.
Ao
longo da história da humanidade, sempre foram usados diferentes
pontos de referência e portanto mapas diversos. Assim, o mapa-múndi
usado hoje pode ser considerado uma verdade contextual e provisória.
A Europa está no centro e em cima em nosso mapa-múndi porque ela
dominou culturalmente por séculos, nos quais impôs o eurocentrismo
como representação universal. Chimamanda Adichie em seu discurso
sobre “O Perigo da História Única”, relativiza os olhares sobre
a história e a geografia. Questiona a dominação cultural por
disseminar esteriótipos. Assim, reforça que as representações da
realidade, mesmo não oficiais ou científicas, são importantes e
devem ser consideradas para ampliarmos nossa compreensão. A “EX
ÁFRICA”, exposição vista no CCBB, dialoga com o discurso de
Chimamanda Adichie ao questionar a história eurocêntrica que
adquirimos como paradigma sobre a África.
VG 2º ANO 2º SEMESTRE 3º BIMESTRE
"O verdadeiro fundador da sociedade civil foi o
primeiro que, tendo cercado um terreno, lembrou-se de dizer isto é meu e
encontrou pessoas suficientemente simples para acreditá-lo. Quantos crimes,
guerras, assassínios, misérias e horrores não pouparia ao gênero humano aquele
que, arrancando as estacas ou enchendo o fosso, tivesse gritado a seus
semelhantes: Defendei-vos de ouvir esse impostor; estareis perdidos se
esquecerdes que os frutos são de todos e que a terra não pertence a
ninguém" (Rousseau, França, 1755)
A partir do texto
acima, do livro "Capitalismo para principiantes" e do filme
"Ilha das Flores", vemos que a propriedade privada é vista como
fundamento da desigualdade e mazelas decorrentes. Rousseau via a igualdade e a
liberdade como elementos originais e naturais do humano. Assim, nem todo mundo
entende que a propriedade é algo natural e legítimo da pessoa humana, mesmo ela
estando no centro da ideologia liberalista hegemônica atualmente. As criança na Ilha das Flores comiam depois
dos porcos porque eram desprovidas de posses. O livro e o filme ironizam o
conceito de liberdade evidenciando os contrastes sociais.
"O grande chefe de
Washington mandou dizer que quer comprar a nossa terra. O grande chefe
assegurou-nos também da sua amizade e benevolência. Isto é gentil de sua parte,
pois sabemos que ele não necessita da nossa amizade. Nós vamos pensar na sua
oferta, pois sabemos que se não o fizermos, o homem branco virá com armas e
tomará a nossa terra. (...) Como pode-se comprar ou vender o céu, o calor da
terra? Tal idéia é estranha. Nós não somos donos da pureza do ar ou do brilho
da água. Como pode então comprá-los de nós? Decidimos apenas sobre as coisas do
nosso tempo. Toda esta terra é sagrada para o meu povo. Cada folha reluzente,
todas as praias de areia, cada véu de neblina nas florestas escuras, cada
clareira e todos os insetos a zumbir são sagrados nas tradições e na crença do
meu povo.
Sabemos que o homem branco não compreende o nosso modo de viver. Para ele um torrão de terra é igual ao outro. Porque ele é um estranho, que vem de noite e rouba da terra tudo quanto necessita. A terra não é sua irmã, nem sua amiga, e depois de exaurí-la ele vai embora. Deixa para trás o túmulo de seu pai sem remorsos. Rouba a terra de seus filhos, nada respeita. Esquece os antepassados e os direitos dos filhos. Sua ganância empobrece a terra e deixa atrás de si os desertos. Suas cidades são um tormento para os olhos do homem vermelho, mas talvez seja assim por ser o homem vermelho um selvagem que nada compreende (1855, trecho inicial da carta do cacique Seattle, da tribo Suquamish, do Estado de Washington, enviada ao presidente dos Estados Unidos (Francis Pierce), depois de o Governo haver dado a entender que pretendia comprar o território ocupado por aqueles índios.)
Sabemos que o homem branco não compreende o nosso modo de viver. Para ele um torrão de terra é igual ao outro. Porque ele é um estranho, que vem de noite e rouba da terra tudo quanto necessita. A terra não é sua irmã, nem sua amiga, e depois de exaurí-la ele vai embora. Deixa para trás o túmulo de seu pai sem remorsos. Rouba a terra de seus filhos, nada respeita. Esquece os antepassados e os direitos dos filhos. Sua ganância empobrece a terra e deixa atrás de si os desertos. Suas cidades são um tormento para os olhos do homem vermelho, mas talvez seja assim por ser o homem vermelho um selvagem que nada compreende (1855, trecho inicial da carta do cacique Seattle, da tribo Suquamish, do Estado de Washington, enviada ao presidente dos Estados Unidos (Francis Pierce), depois de o Governo haver dado a entender que pretendia comprar o território ocupado por aqueles índios.)
A partir da análise
carta do cacique e das transformações sociais ocorridas desde então, podemos afirmar
que:
Os índios não são todos selvagens e podem nos
ensinar visões alternativas de mundo. Os índios questionaram os termos
colocados pelos colonizadores. Propriedade privada dos meios de produção era
inexistentes naquela tribo. No fim, sabemos que a Revolução Industrial foi
realizada a partir de uma acumulação primitiva de capital advinda de
colonização conflituosa, violência ou exploração. Os africanos tiveram um destino
parecido com o dos ameríndios nesse processo de expropriação.
A sede de inovações, que há muito
tempo se apoderou das sociedades e as tem numa agitação febril, devia, tarde ou
cedo, passar das regiões da política para a esfera vizinha da economia social.
Efectivamente, os progressos incessantes da indústria, os novos caminhos em que
entraram as artes, a alteração das relações entre os operários e os patrões, a
influência da riqueza nas mãos dum pequeno número ao lado da indigência da
multidão, a opinião enfim mais avantajada que os operários formam de si mesmos
e a sua união mais compacta, tudo isto, sem falar da corrupção dos costumes,
deu em resultado final um temível conflito.(...) (trecho CARTA ENCÍCLICA - PAPA
LEÃO XIII - Roma, 1891)
A partir do trecho acima e da análise dos filmes "A Revolução
Industrial", "Tempos Modernos" e "Os Miseráveis" ,
vimos que a Revolução Industrial não melhorou a qualidade de vida de
toda a população. O sistema de distribuição desigual dos frutos da indústria
geraram conflitos profundos. "Tempos Modernos" satiriza a
desumanização dos operários após a Revolução Industrial. A obra "Os
Miseráveis" evidencia de maneira romântica a ideologia posta na carta
encíclica. A evolução dos fatores de
produção influenciam e são influenciados pelos costumes e ideias.
TEXTO
A História da África nos bancos
escolares. Representações e imprecisões na literatura didática
Anderson
Ribeiro Oliva
[Em
seu livro Nova História Crítica, p. 83, Mario Furley Schmidt] procura
chamar a atenção dos alunos para as representações dos africanos feitas pelos
europeus. A mudança da fisionomia dos africanos, de seus gestos, roupas e
comportamentos, que recebem feições européias, é destacada pelo autor.
Imagem
IMAGEM
Rolezinho...
A partir das imagens acima *, da exposição EX ÁFRICA (CCBB) e
do filme "Matrix", observamos que as pessoas muitas vezes são
dominadas sem perceber, por conta das ideologias sociais.
Dominantes disseminam e naturalizam suas narrativas acerca
dos fatos e relações sociais. Instituições passam ideias e valores dominantes,
acomodando pessoas ao padrão vigente. Por causa disso foi possível justificar e
consolidar a expropriação e escravidão de africanos e ameríndios, servindo para a acumulação primitiva de
capital necessária à revolução industrial e manutenção do domínio europeu.
Alienação significa perda. A sociedade atual aliena muitos
de sua plenitude humana. O que temos hoje é resultado de todo um processo
histórico. Como construção humana, pode ser desconstruída ou reorientada por
nós.Analisando os diversos olhares sobre a história, somos capazes de perceber e ressignificar os
padrões da estrutura que nos dominam. Estudar história significa muito mais do
que simplesmente decorar fatos, nomes e datas que aconteceram. Ela exige
reflexão dos discursos divergentes, das opressões subjacentes e das conexões
entre as representações contraditórias, para compreensão dos processos de
reprodução e transformação social.
*Infelizmente não consegui colocar aqui as imagens que estarão na VG. Mas elas dialogam bem com as outras imagens apresentadas.
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