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Acredito em um livro como creio nos sonhos ,

dedico-me à troca de pensamentos como às pessoas que amo



domingo, 15 de abril de 2012

Elaborando fatos desagradáveis

     Queridos estudantes,

não escrevi antes, pois estava elaborando meus sentimentos e pensamentos com relação a diversos fatos desagradáveis ocorridos na semana. Tenho estado bem triste desde segunda, quando soube das postagens de alguns alunos do CEM Paulo Freire no facebook, onde depreciavam seus professores por conta da greve. 
     Penso que as pessoas tem opiniões diferentes sobre os diversos e contraditórios assuntos sociais, porém, quando decidem entrar em debate público, devem manter a elegância e empatia frente aos seus interlocutores. Infelizmente o nosso governador não deu bom exemplo nesse sentido, chamando-nos de imorais e comedores de lanche de criancinhas. Como posso achar absurdo quando meu aluno pede que sejamos demitidos? Será de se espantar que peçam para voltarmos a trabalhar se quisermos passar exercícios? É isso o que estão vendo todos os dias: agressões e má fé, frente aos fatos sociais que desagradam a todos e são de responsabilidade coletiva. 
  Não há respostas simples e fáceis quando se trata de questões, com raízes profundas, como a educação brasileira. A desvalorização financeira e moral do professor é só a ponta do iceberg de todo um desleixo com a educação e o bem público, que vem desde os primórdios do Brasil e ainda não conseguimos superar nem no discurso, o que dirá nos processos cotidianos.
     Também não gosto de greve. Escolhi ser professora porque adoro estar em sala de aula com vocês. Mas minha vocação não é só baseada no prazer, mas também na responsabilidade. Não posso simplesmente furar greve porque gosto de estar com vocês e esquecer dos meus companheiros e ideais. Fingir que a educação está ótima, que temos apoio material e de pessoal. Esquecer que estamos sem internet nas salas de aula porque o GDF não pagou a conta! Que meus filhos (também estudantes de escola pública) ficaram um mês sem professor de inglês e matemática, mas agora que estamos em greve não faltam contratos nas escolas. Não sou hipócrita, nem ingênua. Quando escolhi ser professora, assumi o compromisso social de lutar pela educação seja em sala ou fora dela.
     Não acredito que greve seja sempre o melhor recurso político, mas no momento é o que temos. Muitas pessoas morreram para que hoje este seja um recurso legítimo e reconhecido legalmente. Várias garantias trabalhistas e sociais foram adquiridas ao longo da história mundial por meio de greves. Hoje  podemos falar, votar, tirar férias remuneradas, porque pessoas se uniram para lutar pelo que acreditavam. É o que venho fazendo e convidando vocês a fazer. Este é meu trabalho, minha vocação e não vou me eximir disso, por mais  desagradável que as vezes pareça. 
     Venham acampar com a gente na Praça do Buriti. Amanhã, a escola de música estará executando: 24h de música em apoio aos professores (até a hora da assembléia na terça).  
     Aproveitem também a bienal do livro que está na esplanada. Façam panfletos, cartazes, cenas teatrais em prol da educação. Sejam estudantes proativos, sujeitos do conhecimento de vocês e construtores de uma sociedade melhor.
     O apoio de vocês é a maior recompensa que nós professores podemos ter.
     Com amor
     Shirlei

2 comentários:

  1. Shirlei, parabéns pelo blog e pela reflexão muito correta e coerente. A greve é o último recurso diante da falta de resultados nas negociações com os professores. Os alunos são extremamente prejudicados, mas é um mal necessário porque é preciso investir urgentemente na educação do DF que tem tudo para ser a melhor do país e exemplo para todos, mas infelizmente é razão de vergonha diante dos salários defasados e péssimas condições de trabalho.

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