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sábado, 18 de setembro de 2010

Textos prova interdisciplinar 2 ano - Tema: Séc. XIX e seu legado - 3 bimestre

TEXTO I

Quando a preocupação com a vida social emergiu, as bases da vida em sociedade se modificaram radicalmente na Europa. O capitalismo se constituía como modo de produção a partir do surgimento de uma nova classe social – a burguesia – promotora das grandes revoluções modernas. A vida urbana se tornava uma característica dominante no mundo, submetendo o mundo rural, assim como a indústria subordinava a agricultura aos seus interesses.
Um expansionismo sem precedentes punha em contato direto – de forma irreversível e abrangente – as mais distantes e diferentes populações do mundo, lançando as bases daquele fenômeno que chamamos hoje de globalização. Enquanto isso, a organização dos povos sob a forma de estados nacionais se universalizava.
No campo das idéias, a pesquisa científica e as descobertas tecnológicas tornavam-se uma meta cultural e social da maior importância. O individualismo emergia como valor essencial de identidade humana, relegando a segundo plano outras formas de identidade, como a família, o clã e a linguagem. Pragmatismo, imediatismo e individualismo transformam-se e princípios universais e até em dogmas religiosos.
Ao lado de instituições que se universalizavam, desenvolvesse a idéia de que a humanidade é um todo que pode ser reunido num único processo histórico universal e globalizante. Surgem para explicar esse processo as mais diversas teorias da evolução histórica da humanidade.
Todos esses elementos que compõem o que podemos chamar de civilização ocidental despontam de forma mais nítida na Idade Moderna e passam a constituir, no século XIX, o objeto da sociologia, o que faz dela a ciência da modernidade.
(Trecho retirado do livro: Sociologia –  Introdução à ciência da sociedade – autora Cristina Costa - pg 296)
TEXTO II

FRAGMENTO DA OBRA ‘QUINCAS BORBA’ DE MACHADO DE ASSIS
TEORIA HUMANITISTA DE  QUINCAS BORBA
  • "– Não há morte. O encontro de duas expansões, ou a expansão de duas formas, pode determinar a supressão de uma delas; mas, rigorosamente, não há morte, há vida, porque a supressão de uma é a condição da sobrevivência de outra, e a destruição não atinge o princípio universal e comum. Daí o caráter conservador e benéfico da guerra. Supõe tu um campo de batatas e duas tribos famintas. As batatas apenas chegam para alimentar uma das tribos, que assim adquire forças para transpor a montanha e ir à outra vertente, onde há batatas em abundância; mas, se as duas tribos dividirem em paz as batatas do campo, não chegam a nutrir-se suficientemente e morrem de inanição. A paz, nesse caso, é a destruição; a guerra é a conservação. Uma das tribos extermina a outra e recolhe os despojos. Daí a alegria da vitória, os hinos, aclamações, recompensas públicas e todos os demais efeitos das ações bélicas. Se a guerra não fosse isso, tais demonstrações não chegariam a dar-se, pelo motivo real de que o homem só comemora e ama o que lhe é aprazível ou vantajoso, e pelo motivo racional de que nenhuma pessoa canoniza uma ação que virtualmente a destrói. Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas." [Síntese do Humanitismo feita por Quincas a Rubião] cap. 6
  De forma bastante resumida, a frase significa que os vencedores podem desfrutar das batatas nos campos de guerra, simplificando ao máximo o Humanitismo e seu preceito básico de que, na luta pela sobrevivência, quem vence é o mais forte. Conforme a professora Ana Maria Lisboa Mello, "a teoria do Humanitismo é pessimista e aponta para o absurdo da existência, opondo-se à filosofia do Humanismo, que valoriza o homem, colocando-o no centro de tudo".


TEXTO III
Visões de mundo, visões da natureza e a formação de paradigmas geográficos
Breves comentários sobre continuidades e mudanças no pensamento ocidental e na geografia moderna (séculos XIX e XX)

As relações entre contexto material, visões de mundo e visões da natureza presentes na geografia histórica ocidental até o século XVIII continuaram manifestando-se ao longo dos séculos subseqüentes. O século XIX caracterizou-se pela continuada ampliação do território sob a hegemonia capitalista, para garantir mercados e matérias-primas para as indústrias que se expandiam, mantendo-se ainda traços do colonialismo. A concentração e a centralização de capitais, bem como a emergência de crises, foram tendências que se particularizaram nesse século. Enquanto o capitalismo se expandia, o ideário do progresso e da evolução da humanidade, baseado no desenvolvimento da ciência e nos ganhos de um processo produtivo que se ampliava, servia de base ao pensamento da modernidade.
Na filosofia moderna do século XIX, manteve-se a dualidade entre tendências racionalistas e idealistas. Na linha racionalista, a principal corrente foi o positivismo, particularmente em sua forma evolucionista. O marxismo, surgido nessa época, influenciaria o pensamento do século seguinte. Na linha do idealismo, pode-se encontrar a filosofia da natureza, o romantismo, a hermenêutica e a fenomenologia. Também nessa época, começavam a se formular proposições que viriam a compor o ideário existencialista.
Próximo ao final do século XIX, como observam os autores espanhóis Josefina Gómez Mendoza, Julio Muñoz Jimenez e Nicolas Ortega Cantero, a racionalidade científica do modelo evolucionista entrou em crise. Esse sistema apresentava uma visão linear da evolução das sociedades, assumindo que o crescimento e o progresso se dariam de forma geral.  
            No entanto, evidências contrárias passaram a desafiar esses pressupostos, colocando em questão todo o paradigma.  As visões de natureza da época refletiam os pressupostos que serviam de base aos sistemas teóricos predominantes. Do racionalismo, vieram as idéias de separação entre sujeito e objeto e a visão da natureza como externa da natureza, internalizadas e revistas pelo positivismo. A visão determinista do século XVIII, da natureza como uma grande cadeia e da sociedade como parte dessa cadeia, seguiu as mudanças na filosofia e na ciência. O positivismo evolucionista via a lógica da natureza na dinâmica social, porém tendo o todo adquirido a forma de um grande sistema.
O marxismo, que privilegiava as relações materiais como base explicativa das mudanças sociais, via aspectos dialéticos na natureza, sendo esta concomitantemente condição e parte integrante do processo de reprodução social. Enquanto no processo de trabalho e nas relações de produção o ambiente influenciaria a sociedade, a sociedade, ao se desenvolver, progressivamente transformaria a natureza.
Nas correntes idealistas, haveria uma tendência a ver a natureza como dotada de autonomia, ligada à idéia de todo, conforme observa Gomes ao referir-se à filosofia da natureza (Gomes, 1996, p. 95-96). As variadas visões de mundo, combinadas a visões sobre a natureza ao longo do século XIX, exerceram influência fundamental sobre o pensamento geográfico da época, que foi objeto de sistematização científica.   Em seguida, desenvolveu-se um pensamento geográfico que enfatizou o determinismo ambiental e o positivismo evolucionista.
As dualidades presentes nas principais linhas de pensamento com relação à natureza também se refletiram na geografia. Por um lado, o racionalismo privilegiava a separação entre sujeito e objeto e a visão de uma natureza externa à sociedade e à cultura; por outro lado, as correntes idealistas tendiam a ver a natureza como espiritualizada e identificada com a totalidade. A geografia do século XX também manteve essas dualidades.

Lúcia Cony Faria Cidade
Professora do Departamento de Geografia do Instituto de Ciências Humanas da
Universidade de Brasília e do Centro de Desenvolvimento Sustentável – CDS/UnB.
Pesquisadora do Núcleo de Estudos Urbanos e Regionais – NEUR/CEAM/UnB.
Correio eletrônico: cony@unb.br


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